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Fonte da imagem: http://tua-mae.tumblr.com/ |
E eu fiquei ali, perplexa. E aquele olhar curioso, de quem esperava ao menos uma palavra, fosse ela um xingamento ou uma palavra de conforto, em mim se fixava. Mas é que eu não sabia o que falar, a ficha ainda não tinha caído. Não que eu fosse preconceituosa, até tinha amigos gays, conhecia muitos. Mas...Mas meu filho não. Não era possível que eu tivesse errado tanto. E o que as pessoas pensariam dele? E o que as pessoas pensariam de mim? Iam comentar aos quatro cantos que fiz vontade, que dei de tudo, que mimei demais e por isso ele virou o que é. Iam rir dele, de mim e da nossa família. Eu não teria netos e não sei se suportaria vê-lo casado com outro homem.
Respirei fundo, abaixei a cabeça, passei a mão pela testa molhada de suor frio. As minhas mãos tremiam e a minha cabeça borbulhava. Dizem por aí que mãe sempre sabe, mas eu não sabia, por quê? Será que eu era uma péssima mãe? Deus não me perdoaria.
Olhei para ele ali em minha frente, tão homem e tão corajoso. Havia compartilhado a coisa mais preciosa da sua vida. Algo que ele vinha guardando com tanto zelo e medo. E eu não tinha o que falar. Eu estava sendo egoísta, estava me comportando como todos os outros. Estava aumentando a distância que por si só se construiria entre nós, quando ele saísse de casa e fosse morar só e ter uma família. Eu estava sendo compreensivelmente...Patética.
Olha só, olha pra ele, nada mudou. Continuo aqui, o amando, o admirando, e meu coração ferve de amor ao ver aqueles olhos que muito me lembram os meus e a minha juventude. Eu não podia fazer isso com nós dois. Não podia deixa-lo tão aflito. Eu precisava ser realista. Eu devia a ele a mesma honestidade e coragem. Levantei a minha cabeça, me virei pra ele no sofá, peguei a sua mão...E olhando firme em seus olhos, lhe falei:
"- Me desculpe por não compreender ainda pelo que você passa. Me desculpe se prolonguei o silêncio fazendo a sua ansiedade e medo ser um pouco maior do que já era. Você me falar que é gay, é o mesmo que você me falar o seu nome, nada muda. O meu amor e admiração, nada muda. O seu caráter e a sua forma de levar a vida, nada muda. Eu continuo sendo a sua mãe, eu continuarei aqui. Isso não é uma escolha, e eu ainda não entendo o que é. Mas se foi a maneira que você conseguiu ser você no mundo e ser feliz, eu fico feliz também. Obrigada por se dividir comigo, obrigada por ser sempre esse filho amado e querido. "
Nos abraçamos com a intensidade de nossos sentimentos daquele momento. Choramos muito. Ele de felicidade e alívio e eu de orgulho. Eu não deveria me preocupar com o que os outros pensariam. Formei um homem, um homem forte e de um caráter ímpar. Um dos homens mais corajosos que já conheci. Aceitou desde muito cedo caber em si e ser feliz assim, da maneira que lhe coube bem. E eu, apesar do medo do sofrimento que ele poderia ter, me vi ali, aprendendo com alguém que havia vivido muito menos que eu.
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