E ela já sabia que não dava mais, que já havia terminado há tempos. Já não havia mais apreço, mais apego, mais afeto. Não havia mais amor. Olhava pra ele e não sentia mais nada. Absolutamente nada. Mas não se imaginava só, precisava de muletas, não sabia caminhar sozinha, não tinha coragem pra engatinhar e sofria.
O olhar enjoado lhe acompanhava por meses e ela engolia a seco as palavras. Todo dia se prometia: "Hoje termino essa agonia!". Mas logo adiava, sentia pena. Quem sente pena, estima alguém? Quem sente pena, sente admiração? Difícil.
Já não dormia o sono dos justos e todos os dias se prometia, só por hoje, mais uma dose dessa agonia. E pensava sufocada: "Não posso jogar todos esses anos fora, ele irá sofrer!" - Se não sofre ele, sofre você?
Esse conflito a matava a cada dia, já não se possuía, não mais se conhecia, seus gostos e sonhos emprestou todos a ele e nunca mais pegou os de volta.
Até que em um belo dia, pela distância e frieza que neles cabiam. Ele sentou e perguntou se havia algo de errado. Era o momento certo, estava ganhando em suas mãos a chave da liberdade. Se ele perguntou, é porque quer ouvir. Talvez ele já soubesse a resposta, era só confirmar docemente que não dava mais. Mas qual fim é doce?
E no balançar de cabeça, olhos baixos e um peso de mais de 300kg nas costas, balançou a cabeça em sinal negativo. Sorriu forçado, olhou caído, suspirou fundo e disse: "Você é tudo o que eu preciso, deixa disso!"
E ali, naquele momento, perdeu a chance da liberdade e de se reencontrar depois de tanto tempo. Um filme passou em sua cabeça, nunca havia se sentido tão covarde. Não havia mais amor, nem pra ele e nem pra ela. Era costume. Costume de ser vítima, de ser vilã, costume de sofrer, de alimentar dramas e feridas. É que a coceira do cascão é sempre melhor que o arranhão. Não haviam benefícios, só sacrifícios. Mas um dia ensinaram a ela que ser sozinha era pior do que mal acompanhada. Boa aluna, aprendeu e reproduziu, como se viver aquilo bastasse pra ela e pra sempre.
Tem gente que é assim. Prefere a emoção de histórias conhecidas, batidas, repetidas. Arriscar é arriscado demais.
Fico por aqui.
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