domingo, 12 de outubro de 2014

Querido Pedro...


Querido Pedro,

Há tempos que me dói esse seu olhar acostumado. Me dói não conversarmos mais como antes. Me dói nossos hábitos egoístas, nossas trocas de farpas e nossa falta de paciência. Dói demais não ver desejo em seu olhar e em suas palavras.
Há tempos que notei que o noticiário esportivo ganhou mais importância do que eu, do que nós e nossa vida a dois. Há tempos notei também que dormir se tornou muito mais interessante do que fazer sexo e que nosso sexo não passa de obrigações burocráticas de um casamento falido e sem amor.
Quando nos conhecemos, eu prometi a mim mesma que jamais cairíamos na rotina, nem quando as crianças chegassem, nem quando nos cansássemos da vida enfadonha de um casamento tradicional, cheio de altos e baixos. Mas ao longo do tempo, percebi que um casamento de sucesso, esses que a gente idealiza ainda na infância, não se pode construir sozinha. Um casamento é um patrimônio, e onde não há acordo, jamais haverá bons resultados.

Bom Pedro, não lhe escrevo para lhe culpar, mas para lhe dizer que venho refletindo muito no que a minha vida se tornou, venho refletindo nas escolhas que eu fiz e que por mais curioso que pareça, você continua sendo a melhor delas. Não foi por acaso que escolhi você, não foi por acaso que senti paz em seu sorriso, muito menos por acaso que quando a gente se beijou pela primeira vez, me deu vontade de permanecer ali pra sempre. 
Hoje fazem seis anos que decidimos dar um passo de maior responsabilidade, hoje completamos seis anos de união de papéis assinados e testemunhas nervosas como nós. Mas não completamos seis anos de corpos juntos, de corações companheiros e sentimentos cúmplices, o que é uma pena e foi pensando nisso, em como nos perdemos, que resolvi nos buscar. 
Hoje você não vai me encontrar em casa, com o olhar e corpos cansados preparando a janta depois de um dia intenso de trabalho. Hoje eu estarei no mesmo lugar que nos encontramos pela primeira vez, estarei aqui te esperando ansiosa, como no nosso primeiro encontro e aguardarei a sua chegada leve, sorridente e disposta como naquele dia. 
Querido Pedro, será que você aceitaria recomeçar?
Ass: Sua eterna e disposta Sandra.

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