terça-feira, 28 de outubro de 2014
Mais um clichê!
Enfim casa. Essa história de trabalhar viajando nunca me encantou. Mas vez ou outra era necessário e eu não poderia negar um cachê a mais. Sempre que eu ia ficava doida pra voltar; Ter de volta meu lar, meu aconchego e meu marido.
Porta destrancada, cheirinho de intimidade, malas no chão e lá estava eu no meu lar doce lar.
"Chegueeei! Tem alguém aí?" - Perguntei em tom de brincadeira, havia chegado antes do dia, adoro fazer surpresas.
O silêncio ocupava a sala, roupas espalhadas pelo chão faziam uma trilha que me levava até o quarto. Acompanhei com o olhar, e quis ser a pessoa mais inocente naquele momento. Não acreditei que ele havia bagunçado a casa inteira daquele jeito em apenas dois dias. Mas foi muito além disso, ele havia bagunçado a casa inteira e também meu coração, pensamentos e a minha vida.
Segui a trilha em silêncio, a porta do quarto entre aberta, no som a nossa música tocava, ouvi gemidos abafados, pernas entrelaçadas. Gelei. Voltei de ponta de pé pra sala, tampei a boca do grito feroz que eu queria ter largado. Meu corpo perdeu o controle. Fui até a cozinha, pensei na faca, mas não sabia quem eu mataria primeiro. Precisava me acalmar, não sabia o que fazer. Culpo a quem? Grito ou entro em silêncio? Armo um barraco ou banco a bem resolvida? O que eu faço?
E quando vi já estava lá, aplaudindo. Isso mesmo, eu aplaudi, aplaudi aquela palhaçada em minha cama, aquele cheiro de sexo em meu quarto e quando me dei conta quem era a mulher que estava ao seu lado eu aplaudi mais ainda e ainda gritei: "BRAVO!".
Minha melhor amiga e meu marido, fazendo papel de vilões, bem ali na minha frente e eu expectadora patética e estática não sabia o que fazer. Não permiti que caísse uma lágrima, não permiti que me explicassem nada. Para aquilo não havia explicação, obviamente. Abri a porta do guarda roupas e os olhares me acompanhavam assustados, cobriam a nudez como se esse fosse o motivo da vergonha. Peguei aos montes os cabides que já tinham destino certo, a janela. Ele me dizia que podia explicar. Ela ainda ousava iniciar a frase me chamando de amiga. E eu fervia como bule que ecoa na cozinha assobios de desespero.
Até que explodi: "CALEM-SE! Nada que me digam vai explicar o que vocês dois fizeram. Absolutamente nada. Agora eu vou sair, preciso respirar e quando voltar quero a casa vazia, sem as suas coisas, sem nada que me lembre você. E você... - apontei pra ela - esqueça que um dia passou pela minha vida!"
Peguei a minha bolsa, atravessei a porta desejando atravessar um portal, pensando na faca que eu desisti de pegar e pensando no barraco que desisti de armar. Bati a porta com a força que eu gostaria de ter batido em cada um deles. Peguei meu celular e liguei para a única pessoa que naquele momento eu sabia que poderia me confortar. Aos prantos, quase sem saber como começar falei:
"Mãe... Estou indo até aí... Preciso de colo!"
domingo, 12 de outubro de 2014
Querido Pedro...
Querido Pedro,
Há tempos que me dói esse seu olhar acostumado. Me dói não conversarmos mais como antes. Me dói nossos hábitos egoístas, nossas trocas de farpas e nossa falta de paciência. Dói demais não ver desejo em seu olhar e em suas palavras.
Há tempos que notei que o noticiário esportivo ganhou mais importância do que eu, do que nós e nossa vida a dois. Há tempos notei também que dormir se tornou muito mais interessante do que fazer sexo e que nosso sexo não passa de obrigações burocráticas de um casamento falido e sem amor.
Quando nos conhecemos, eu prometi a mim mesma que jamais cairíamos na rotina, nem quando as crianças chegassem, nem quando nos cansássemos da vida enfadonha de um casamento tradicional, cheio de altos e baixos. Mas ao longo do tempo, percebi que um casamento de sucesso, esses que a gente idealiza ainda na infância, não se pode construir sozinha. Um casamento é um patrimônio, e onde não há acordo, jamais haverá bons resultados.
Bom Pedro, não lhe escrevo para lhe culpar, mas para lhe dizer que venho refletindo muito no que a minha vida se tornou, venho refletindo nas escolhas que eu fiz e que por mais curioso que pareça, você continua sendo a melhor delas. Não foi por acaso que escolhi você, não foi por acaso que senti paz em seu sorriso, muito menos por acaso que quando a gente se beijou pela primeira vez, me deu vontade de permanecer ali pra sempre.
Hoje fazem seis anos que decidimos dar um passo de maior responsabilidade, hoje completamos seis anos de união de papéis assinados e testemunhas nervosas como nós. Mas não completamos seis anos de corpos juntos, de corações companheiros e sentimentos cúmplices, o que é uma pena e foi pensando nisso, em como nos perdemos, que resolvi nos buscar.
Hoje você não vai me encontrar em casa, com o olhar e corpos cansados preparando a janta depois de um dia intenso de trabalho. Hoje eu estarei no mesmo lugar que nos encontramos pela primeira vez, estarei aqui te esperando ansiosa, como no nosso primeiro encontro e aguardarei a sua chegada leve, sorridente e disposta como naquele dia.
Querido Pedro, será que você aceitaria recomeçar?
Ass: Sua eterna e disposta Sandra.
domingo, 5 de outubro de 2014
"É... agora somos nós dois, agora somos um!"
Eu temia que esse dia chegasse, pois eu não saberia o que fazer, como realmente não soube. Sempre sonhei com a maternidade, mas na teoria as coisas com certeza eram mais práticas. Eu não tinha noção do tamanho da minha responsabilidade e a minha cabeça girava por dentro e por fora. Corri até a sala, minhas amigas esperavam ansiosas. Não consegui falar, não consegui dizer nada. Apenas sentei no sofá, pus as mãos no rosto, cobri o desespero que eu sentia com lágrimas.
"Deu positivo?" - Ouvi uma voz acolhedora e curiosa, mas eu não tinha voz pra responder. Em minha cabeça se passava tudo, inclusive meus planos de uma carreira promissora indo embora. Meu último ano na Faculdade, eu não teria tempo, não saberia administrar. Fraldas, choro, mamadeiras, leite, choro, sono, noites perdidas, choro, roupas, enxoval, sem saídas, dores, sem vida social e mais choro.
"Eu não sei o que fazer!" - E naquele momento de fato eu não queria saber.
"Tudo vai se ajeitar, estamos com você, esqueceu?" - Frase clichê que eu dispensava naquele momento. Mas fez efeito ouvir.
Minha cabeça estava um turbilhão. Como pude deixar isso acontecer? Como não cuidei de mim? Como fui relapsa com meus planos e projetos? Como?
Respirei fundo, recuperei a compostura, eu tinha que encarar os fatos com mais maturidade, mesmo não sabendo como iria fazer aquilo. Listei três coisas emergentes que eu teria que fazer naquele momento.
1- Contar aos meus pais.
2- Contar ao pai.
3- Continuar vivendo.
E assim, enxuguei as minhas lágrimas, agradeci gentilmente ao apoio das minhas amigas, olhei com o maior afeto do mundo para a minha barriga que dali há uns tempos não seria mais chapada. Passei a mão nela e disse: "É... agora somos nós dois, agora somos um!".
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