segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NÃO PODEMOS...

Fonte da imagem: http://www.chamaeleon.org.br/?p=415

Nascemos culpadas. Quando o médico descobre o sexo do bebê e diz a mãe da criança: "Parabéns, é uma menina!". Ali, naquele exato momento começa a culpa. Ali, naquele exato momento, toma vida a cabra que deve ficar presa porque os bodes estão soltos. É ali, que é reformulado todo o processo do que nos será ensinado e nos será mostrado o que NÃO PODEMOS FAZER. Não podemos andar sem camisa. Não podemos sentar com as pernas abertas porque somos mocinhas. Não podemos não querer ser mãe. Não podemos optar por ser solteira. Não podemos escolher com quem queremos fazer sexo. Não podemos ganhar mais pelo nosso trabalho. Não podemos usar roupas curtas. Não podemos falar alto. Não podemos xingar. Não podemos beber e fumar, simplesmente, sem nenhuma justificativa, NÃO PODEMOS. 
Não podemos inclusive, chegar a uma determinada idade sem ter um namorado/marido, mesmo que esse homem seja reflexo de uma sociedade fracassada e recheada de machismo. Mesmo que esse homem nos faça (apoiado por todo respaldo social) acreditar que sem ele não somos e jamais seremos alguma coisa. Mesmo que esse homem mine a cada dia a nossa auto estima devido a sua falta de auto confiança. Mesmo que esse homem grite, nos xingue e nos bata. Lembre-se sempre, você só é uma MULHER se você estiver com um homem ao lado, tiver filhos, lavar e passar, saber cozinhar e acima de tudo, entender que para a sociedade você e somente você, será culpada por toda violência gerada contra você mesma. 
Entendeu?!
Não! Nunca entendi isso. A minha cabeça não consegue acompanhar os fatos. Eu não consigo entender e conceber as mulheres da minha geração aceitarem se submeter a certos moldes. Não entra em minha cabeça, mulheres com todo direito à independência, depender afetivamente de migalhas em uma relação. E jamais, irão me fazer mudar de ideia quando eu falo que a sociedade machista que estamos inseridas é a maior cúmplice de toda violência que presenciamos contra as mulheres. 
Ensinamos as nossas meninas, que para elas serem felizes elas precisam estar acompanhadas. Ensinamos as nossas meninas que caso elas sofram um estupro, elas que provocaram isso, pelo simples fato de terem nascido. Ensinamos as nossas meninas que o fato de ela apanhar de um cara, é a forma dele enxerga-la e dá atenção e amor a ela. Ensinamos as nossas meninas que quando um cara a ignora e a maltrata é porque ele a ama e só está fazendo tipo. Ensinamos as nossas meninas a serem vítimas, serem vítimas caladas. 
E eu me pergunto: Até quando? 
Meu coração hoje encontra-se inquieto, pequeno e apertado. 
Fico por aqui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Até nunca mais...



"Você vai ficar bem?" - Me perguntou como quem esperava uma resposta afirmativa, no sentido de livrá-lo de qualquer culpa que pudesse carregar depois. Não menti, não podia. Eu sabia que não iria ficar bem, ainda com a cabeça baixa, respirei fundo, solucei enquanto enxugava as lágrimas e falei:
- Vou ficar! Mas não agora, no meu tempo. E no fundo sabemos que lá na frente você não significará mais nada, só será lembranças de uma experiência mal sucedida que eu jamais deveria ter começado.
E o silêncio se prolongou por alguns minutos. Eu sabia que lá no fundo o que eu queria era não ter aquela conversa, era não me sentir tão fragilizada, era não aturar ele se fazendo de bom moço preocupado.
Eu sempre soube que não suportaria uma traição, que não perdoaria, mas ainda o amava.
Passou um filme em flash em minha cabeça, desde o nosso primeiro encontro, olhar, abraços e beijos. Passou uma série de dúvidas também, como o que as pessoas iriam pensar se continuássemos juntos depois do que aconteceu. Passou ali, bem adiante, uma série de certezas: A primeira era que eu deveria escolher a forma que eu merecia ser tratada, a segunda era que pouco deveria me importar com a opinião dos outros e a terceira era que mesmo o amando, eu me amava muito mais.
Ali com aquelas certezas eu sequei as minhas lágrimas. Levaria um tempo para esquecê-lo, mas aquilo não me mataria, não me tiraria a vontade de continuar e muito menos me faria desacreditar totalmente no amor.
Levantei do sofá, ele sentado ao lado e em silêncio. Caminhei lentamente até a porta da casa, a abri escancaradamente. Ele me olhou assustado, como quem não acreditava no que via.
-Está vendo essa porta? Está vendo esse caminho? Grave o bem, pois por eles você jamais passará novamente. E isso não é um "adeus", é um "até nunca mais".
- Está me colocando pra fora? - Perguntou admirado, como se esperasse uma reconciliação.
-Sim, estou te colocando pra fora, da minha casa e da minha vida. - Fui firme, meu corpo inteiro tremia, mas estava orgulhosa de mim mesma e naquele momento, era amor o que eu sentia. Logo pensei: "Você é admirável!".
- Posso te ligar? - Falou em baixo tom enquanto se aproximava da porta.
- Acho que você não entendeu. A partir de hoje não temos mais porque nos falarmos.
-Mas...
Empurrei o lentamente para fora de casa e bati a porta. Corri para o sofá e abafei o grito com a almofada, chorei copiosamente, a cabeça queimava, o coração acelerado e a vontade de sumir. Mas eu queria sentir e precisava. Precisava processar aquilo tudo sozinha. Choraria um, dois e até três dias. Mas no quarto dia, logo pela manhã, já estaria nova em folha. Para continuar sendo livre, para continuar sendo eu e bancando as minhas decisões.
Fico por aqui,